IMPORTÂNCIA DA PRAGA
O psilídeo dos citros Diaphorina citri é o inseto vetor de um grupo de bactérias causadoras do greening (huanglonbing/HLB), considerada a mais importante e destrutiva doença da citricultura brasileira e mundial. No Brasil, D. citri é conhecida desde a década de 1940, no entanto a doença somente foi registrada em 2004. Desde o primeiro registro dessa doença no parque citrícola de São Paulo e Minas Gerais até o momento já foram erradicados mais de 46 milhões de plantas ocasionando uma redução de 100 mil hectares da cultura.
Devido o psilídeo ter sido considerado no passado uma praga secundária sem importância, as populações dessa praga sempre foram altas nos pomares, fato esse que contribuiu para a rápida disseminação do greening na citricultura brasileira. Outro fato que ajudou no processo de disseminação da doença foi que o písilideo dos citros vive em plantas da família Rutaceae, principalmente a murta de jardim Murraya paniculata e em todas as variedades de citros. Sendo a murta uma planta ornamental ela está presente em todos os centros urbanos e vem servindo de fonte de disseminação, tanto da praga quanto do inóculo da doença, pois essa planta também é hospedeira da bactéria causadora do greening.
BIOLOGIA, IDENTIFICAÇÃO E COMPORTAMENTO DA PRAGA
O psilídeo dos citros pertence a ordem Hemiptera, família Liviidae são insetos sugadores semelhantes a minúsculas cigarrinhas. Apresenta três fases distintas de desenvolvimento ao longo de sua vida (ovo, ninfas e adulta), sendo que a fase ninfal é formada por 5 instares. O ciclo de desenvolvimento de ovo até adulto dura cerca de 14 dias (verão) a 40 dias (inverno).
Os adultos apresentam de 2 a 3 mm de comprimento, possuem uma coloração acinzentada e podem viver vários meses. As fêmeas quando grávidas apresentam o abdômen alaranjado e podem colocar até 800 ovos. Apresentam o hábito de ficarem próximos as brotações, onde fazem a oviposição e as ninfas se desenvolvem, porém também podem ser encontrados em folhas maduras. Quando em repouso permanecem inclinados na folha e nas brotações num ângulo de 45º, porém quando perturbados saltam ou voam pequenas distâncias. Os ovos são amarelos e se encontram aderidos às folhas das brotações. As ninfas são achatadas com pernas curtas, apresentam coloração amarelo-alaranjado nos primeiros instares, tornando-se marrom acinzentadas nos últimos instares.
Ciclo de vida do psilídeo dos citros.
Ciclo de vida do psilídeo dos citros.
DANOS
Os danos diretos causados pelo psilídeo devido à sucção de seiva não representam prejuízos ao pomar, porém é durante a alimentação em plantas doentes que o inseto adquire a bactéria causadora do greening e que insetos contaminados transmitem a bactéria a plantas sadias. Psilídeos que se desenvolvem em plantas doentes apresentam maior eficiência de transmissão em comparação aos que adquirem a bactéria na fase adulta.
O greening ataca todos os tipos de citros e não há cura para as plantas doentes. As arvores novas afetadas não chegam a produzir e as adultas em produção sofrem uma grande queda prematura de frutos e definham ao longo do tempo. O período estimado de incubação da doença é de aproximadamente 6 a 36 meses. Durante este período que a planta doente assintomática, ou ainda com sintomas pouco expressivos permanece no pomar, se torna um propagador invisível da doença.
Citros com ataque de greening.
MANEJO DO GREENING E DO PSILÍDEO DOS CITROS
Não há como falar sobre manejo do psilídeo dos citros sem falar sobre manejo do Greening/HLB. Para o manejo da doença três estratégias são empregadas. 1) Plantio de mudas sadias, comercializadas em viveiros protegidos e credenciados junto a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA); 2) Erradicação de plantas doentes, sendo que o produtor deve inspecionar pelo menos duas vezes por semestre e erradicar as plantas doentes com sintomas e 3) controle do Inseto Vetor.
Tanto para o controle da doença, quanto do seu vetor, os citricultores precisam ampliar as ações para além de suas fronteiras, auxiliando na eliminação de árvores doentes e plantas hospedeiras e realizando o monitoramento e o controle do psilídeo em áreas externas à sua propriedade. A alta incidência de árvores contaminadas na vizinhança dificulta o manejo da doença devido a constante migração de psilídeos destas áreas para os pomares.
Infestação por psilídeos.
O MANEJO DO PSILÍDEO DOS CITROS
MONITORAMENTO
O monitoramento é ferramenta essencial para o manejo do psilídeo, com ele o produtor reduz os custos de aplicação, pois somente irá pulverizar quando a praga estiver presente no pomar, além de ser uma ferramenta que mede a eficiência do controle que o produtor está adotando em seu pomar.
O monitoramento pode e deve ser realizado de duas formas, com o uso de armadilhas adesivas amarela e pela inspeção visual de brotos novos e folhas maduras. No monitoramento com armadilhas adesivas elas serão colocadas no terço superior da copa, na extremidade do ramo e voltadas para fora do talhão, de forma que fiquem bem visíveis ao inseto. As armadilhas devem ser instaladas a cada 100-250 metros na borda dos talhões, voltadas principalmente para possíveis fontes de migração de psilídeos como pomares abandonados e residências vizinhas com plantas hospedeiras em seus quintais, como citros e murta. As armadilhas amarelas são ferramentas eficientes para mostrar os fluxos de entrada da praga na cultura e assim indicar o momento de aplicação.
Monitoramento por armadilha adesiva.
Monitoramento visual.
No monitoramento visual, a inspeção é realizada em 1% das plantas dos talhões, observando de 3 a 5 ramos novos com brotações meristemáticas por planta, local onde são colocados ovos e se desenvolve as ninfas. O caminhamento do pragueiro deve ser em espiral iniciando pelas bordas onde ocorre maior incidência do vetor e finalizando no centro do talhão.
O psilídeo está presente no pomar o ano todo, no entanto devido a preferência por brotações novas, o monitoramento deve ser intensificado durante as épocas da primavera e verão em que ocorre o aumento de brotações e consequente aumento populacional da praga. Para o monitoramento visual algumas estratégias são adotadas no caso de plantas adultas, como o uso de plataforma acoplada ao trator para visualizar a copa das arvores.
Nível de Controle
Por se tratar de um inseto vetor, a presença de apenas um psilídeo é suficiente para indicar a necessidade de controle.
Controle Químico
O controle é feito principalmente com o uso de defensivos agrícolas, sendo que as aplicações devem ser feitas a partir do monitoramento de adultos e ninfas, sobretudo entre o final do outono e o final do verão, que caracterizam as épocas de surtos vegetativos.
Vários produtos são indicados para controle do psilídeo. Porém, é necessário escolher aqueles que façam parte da Lista ProteCitrus (Produtos para Proteção da Citricultura), que contém os defensivos em conformidade com a legislação internacional. Além disso, deve-se avaliar o histórico de pulverizações e realizar a rotação de grupos químicos com diferentes modos de ação para evitar o desenvolvimento de resistência.
As estratégias de controle envolvendo o uso de defensivos irá mudar de acordo com a idade da planta.
Controle químico.
No Viveiro: Recomenda-se o uso de inseticida sistêmico aplicado via drench de um a cinco dias antes da saída das mudas para o campo. O volume de aplicação é de 50 mL/muda.
Pomares de 0 a 3 anos e replantas: deve-se realizar aplicações de inseticidas sistêmicos via drench e/ou tronco associados a pulverizações foliares com inseticidas de contato, principalmente no início do período de emissão de fluxos vegetativos, quando se encontra a maior população do psilídeo e plantas mais suscetíveis à inoculação da bactéria. No caso dos inseticidas sistêmicos (Drench e tronco) deve-se aplicar de 3 a 4 vezes/ano, principalmente no início dos fluxos vegetativos. Normalmente, entre o fim do inverno e início da primavera (1ª aplicação), no início do verão (2ª aplicação) e no final do verão (3ª aplicação). Uma aplicação adicional (4ª aplicação) pose ser realizada no outono, preferencialmente via tronco devido à baixa umidade do solo. No caso de Drench, o volume de aplicação será de 100 a 500 mL / árvore (de acordo com o tamanho da planta).
As aplicações foliares dever ser realizadas de forma complementar as aplicações de inseticidas sistêmicos, em intervalos de 7 a 14 dias, principalmente em talhões localizados na borda da propriedade. Recomenda-se a pulverização com volumes de calda de 25 a 40 mL de calda/m³ de copa com velocidade de 6 a 7 km/h.
Pomares acima de 3 anos. Em pomares acima de 3 anos os inseticidas sistêmicos via drench ou tronco apresentam eficiência reduzida. Dessa forma, nesses pomares prevale as aplicações foliares em intervalos de 14 a 28 dias, sendo que uma atenção especial deve ser dado aos talhões localizados na borda da propriedade.
MANEJO REGIONAL
O controle do vetor deve se estender para fora da propriedade. O produtor deve estar alinhado com produtores vizinhos para realizar aplicações de forma simultânea para que o psilideo não migre de uma propriedade para outra durante as pulverizações. A estratégia garante maior período de controle da população do inseto e, consequentemente, reduz as pulverizações. O manejo regional também pode utilizar a ferramenta de Alerta Fitossanitário, desenvolvido pelo Fundecitrus.
CONTROLE BIOLÓGICO
Vem sendo adotado de forma complementar as pulverizações inseticidas com o uso do parasitoide Tamarixia radiata. As liberações são feitas em locais onde o controle químico não é adotado, como pomares abandonados, quintais, chácaras e áreas com murta na zona rural ou urbana, que podem servir de criadouros do inseto. Essa estratégia vem sendo desenvolvido pelo Fundecitrus, sendo as áreas identificadas pelo Alerta Fitossanitário.
Tamarixia radiata (Fonte: Fundecitrus)
Ingrediente ativo, grupo químico, e modo de ação dos principais inseticidas utilizados no controle de Diaphorina citri na cultura dos citros.
Fontes: Agrofit 2020; IRAC-BR 2017.
Fontes: Agrofit 2020; IRAC-BR 2017.