Diferentemente das grandes culturas (algodão, café, cana-de-açúcar, citros, soja, trigo, entre outras) que possuem maior investimento em pesquisa, principalmente quanto à introdução de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e tecnificação, as chamadas “minor crops”, culturas de suma importância, como a batata, possuem menos investimentos e tecnologia. Um dos principais entraves encontrados é que estes últimos são na sua maioria destinadas ao consumo interno com menor valor agregado, em contraponto com os que são desenvolvidos para serem commodities agrícolas ocupando uma grande porcentagem de área cultivada no país e despertam maior interesse pela sua importância na balança comercial do Brasil.
A pergunta que sempre fazemos é como introduzir metodologias de Manejo Integrado de Pragas em culturas de ciclo curto e com metodologias de produção pré-determinadas? E principalmente para que? As respostas são simples e diretas. Para efetuar a introdução há de se quebrar alguns paradigmas que vem sendo empregados através de gerações de produtores. A necessidade é simples e notória, ao se quebrar estas normas alteramos um agro ecossistema favorável a pragas e patógenos que se perpetuam graças a ciclos ininterruptos de plantio. Alguns programas promissores para estas “pequenas culturas” de desenvolvimento rápido e que estão sendo implementados com bastante sucesso na horticultura são em tomate e batata. A batata atualmente possui uma área plantada no Brasil de aproximadamente 130.000 ha/ano, que se divide em três períodos de plantio: das secas (janeiro a abril); de inverno (maio a julho) e das águas (agosto a dezembro), ou seja, temos produção o ano todo.
Na batata para consumo, a maior preocupação são os danos diretos, provocados por insetos mastigadores, desfolhadores, raspadores, formadores de minas e demais sugadores, destacamos: lagarta-rosca (Agrotis ipsilon); lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda, além de S. eridana); lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens); traça-da-batatinha (Phthorimaea operculella); vaquinha-da-batatinha (Epicauta atomaria); larva-alfinete ou brasileirinho (Diabrotica speciosa); pulga-do-fumo (Epitrix spp.); larva-arame (Conoderus scalaris); bicho-bolo (Dyscinetus planatus); cigarrinha-verde (Empoasca sp.) e finalmente a mosca-minadora (Liriomyza spp.). Porém em áreas de batata-semente, esta com maior valor agregado, a maioria dos insetos envolvidos na disseminação de vírus de maior importância para a cultura são sugadores, resultando na degenerescência da semente, sendo: i) afídeos: transmitindo o vírus Y da batata – PVY (Potato virus Y e isolados PVY NTN e PVYWilga; vírus do enrolamento da folha da batata – PLRV (Potato leafroll virus); vírus A da batata – PVA (Potato virus A) e vírus S da batata – PVS (Potato virus S), destacando-se as espécies: Myzus persicae e Macrosiphum euphorbiae; ii) moscas-brancas: Bemisia tabaci MEAM I; MED e Trialeurodes vaporariorum, transmitindo Geminivirus dos gêneros Begomovirus representados pelos mosaico deformante– Tomato yellow vein streak virus (TYVSV) e o vírus do enrugamento severo do tomate- Tomato severe rugose virus (ToSRV), além do vírus da clorose do tomateiro (Tomato chlorosis virus – ToCV), um Crinivirus; iii) tripes (raspador-sugador), responsáveis pela transmissão do complexo do vírus do “vira-cabeça-do-tomateiro” (Tospoviridae), enfatizando as espécies Trips tabaci, T. palmi e Flankliniella sp. O monitoramento é essencial sendo que as vistorias e amostragens devem ocorrer a cada 4 dias visto que os insetos vetores de vírus são estrategistas do tipo “R”, ou seja, cada geração ocorre em poucos dias. Para cada amostragem deve usar a média da avaliação de 5 plantas consecutivas. Para cada hectare sugere-se fazer em 20 pontos, sendo este alocados de forma em zig-zag, além de armadilhas adesivas e do tipo badeja d’água, facilitando a contagem e a tomada de decisão
Observação e contagem de indivíduos de Bemisia tabaci em Melampodium perfoliatum (estrelinha) (Serra do Salitre, MG).
Armadilhas adesivas amarelas adesivas em macro túnel de produção de batata-semente (à esquerda) e armadilhas atrativas do tipo bandeja d’água amarela e verde (à direita) para monitoramento de insetos vetores (Bonito, BA).
Observação e contagem de indivíduos de Bemisia tabaci em Melampodium perfoliatum (estrelinha) (Serra do Salitre, MG).
Armadilhas adesivas amarelas adesivas em macro túnel de produção de batata-semente (à esquerda) e armadilhas atrativas do tipo bandeja d’água amarela e verde (à direita) para monitoramento de insetos vetores (Bonito, BA).
A incorporação de métodos de controle biológico em algumas fases do desenvolvimento da cultura de batata vem sendo muito estudada, principalmente com a introdução de inimigos naturais, como a Chrysoperla externa para controle de Myzus persicae, a vespa parasitoide Encarsia sp. e os ácaros predadores: Amblyseius tamatavensis; A. swirskii e Amblydromalus limonicus para controle de fases de ovo e ninfa de Bemisia tabaci e posteriormente o uso de Bt (Bacillus thuringiensis) para controle de adultos; ácaros predadores da família Laelapidae controlando ninfas de tripes e o percevejo predador Orius sp. no controle da fase adulta do tripes e finalmente a liberação de Trichogramma spp. Para controle de lagartas.
Encarsia formosa em folíolo de batata (Campinas, SP).
a) Fêmea adulta de Amblydromalus limonicus ácaro predador de Bemisia tabaci e; b) arena de criação (Campinas, SP).
Encarsia formosa em folíolo de batata (Campinas, SP).
Fêmea adulta de Amblydromalus limonicus ácaro predador de Bemisia tabaci e.
Arena de criação (Campinas, SP).
Cápsula de liberação de Trichogramma sp. em casa-de-vegetação de tomate (Mogi das Cruzes, SP).
Sirfídeo (mosca predadora) controlando Bemisia tabaci (Mogi das Cruzes, SP).
Cápsula de liberação de Trichogramma sp. em casa-de-vegetação de tomate (Mogi das Cruzes, SP).
Sirfídeo (mosca predadora) controlando Bemisia tabaci (Mogi das Cruzes, SP).
Outra vertente que pode ser aplicada a cultura de batata e tomate com êxito e pode ser associada ao MIP, utilizando-se tanto o controle biológico quanto o químico é o emprego de barreiras físicas com agrotêxtil, esta metodologia vem sendo utilizada no Brasil desde 1980 em diferentes culturas e pode ser um complemento para um sistema de produção de hortaliças menos agressivo ao meio ambiente. Alguns trabalhos vêm sendo desenvolvidos com o agrotêxtil sendo aplicado de diferentes formas (cobertura flutuante, micro e macro túneis). Esta é uma pequena mostra do que pode ser incorporado para a redução de pulverizações e auxiliando na produção mais consciente e desta maneira, preservando por mais tempo as moléculas, utilizando-as apenas quando necessárias.
Aplicação de agrotêxtil + gotejamento em cultura de tomate rasteiro (Irecê, BA).
Aplicação de agrotêxtil + gotejamento em cultura de tomate rasteiro (Irecê, BA).
Produção de batata-semente em macro túnel de agrotextil na região da chapada Diamantina (Bonito, BA) evitando problemas com fitovírus.
Produção de batata-semente em macro túnel de agrotextil na região da chapada Diamantina (Bonito, BA) evitando problemas com fitovírus.