O objetivo geral do projeto de tese foi avaliar o potencial de fungos entomopatogênicos como inoculantes sobretudo contra o ácaro rajado Tetranychus urticae, seus efeitos na promoção de crescimento de plantas de feijão e morango, e o efeito tri-trófico em ácaros predadores. Estudos foram então conduzidos no Departamento de Plantas e Ciências Ambientais da Universidade de Copenhagen, no Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ, e em áreas de produção comercial de morangueiro em Senador Amaral – MG e em Atibaia – SP, durante 4 anos.
Inicialmente nós buscamos isolados de fungos entomopatogênicos promissores para a realização da pesquisa. A partir de um total de 34 isolados, selecionamos dois para a condução de experimentos na Universidade de Copenhagen, onde foi estudada a inoculação de sementes de feijão como planta modelo, em suspensões de um isolado de Metarhizium robertsii e Beauveria bassiana, individualmente e combinados em uma mesma suspensão, e os efeitos na promoção de crescimento e produção das plantas; ao ácaro rajado e ao ácaro predador Phytoseiulus persimilis, em casa-de-vegetação. Na ESALQ/USP, estudos foram conduzidos com plantas de morangueiro em casa-de-vegetação, onde foram avaliados os efeitos da inoculação de raízes em suspensões de 15 isolados de Metarhizium spp., 5 isolados de B. bassiana e 5 isolados de Cordyceps fumosorosea, na oviposição do ácaro rajado e no crescimento de plantas e produção de frutos. Dois isolados foram então selecionados e testados em quatro áreas de produção comercial de morangueiro, também por meio da inoculação de raízes em suspensões fúngicas antes do plantio, quanto aos efeitos em pragas, inimigos naturais e doenças de plantas em campo.
Os resultados mostraram redução significativa na população do ácaro rajado e aumento no desenvolvimento das plantas nas duas culturas. A produção de vagens em plantas de feijão e de frutos de morango foram superiores nas plantas inoculadas em relação às não inoculadas. No caso do ácaro predador P. persimilis, não foi observada diferença na taxa de predação por T. urticae proveniente de plantas tratadas e não tratadas. Nas áreas comerciais de produção de morangueiro também se observou populações significativamente menores de ácaro rajado nas parcelas tratadas com Metarhizium e Beauveria. Também houve menos sintomas das doenças mancha-de-micosferela e mancha-de-pestalotia nas plantas inoculadas; e uma população natural de ácaros predadores da espécie Neoseiulus californicus presente em uma das áreas, não foi afetada em campo.
Os resultados obtidos por este projeto trazem uma nova perspectiva do uso de fungos entomopatogênicos como inoculantes, revelando que esta pode ser uma estratégia promissora para introdução em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Esta nova forma de aplicação é capaz de trazer mais benefícios comparado ao uso desses entomopatógenos como agentes de controle biológico de contato, podendo apresentar potencial no controle duplo de pragas e fitopatógenos; crescimento de plantas e aumento de produção, sendo compatível com outros inimigos naturais.
No Brasil, já existe um produto formulado com a mistura de Metarhizium anisopliae + Beauveria bassiana, o produto comercia Dobbel® SC da empresa Maneogene Agrociências S.A., indicado para o controle do percevejo-marrom (Euschistus heros) e da cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta). O desenvolvimento de produtos comerciais à base de fungos entomopatogênicos para uso como inoculantes se trata de uma tendência para o futuro, e a associação desses produtos biológicos com outros inimigos naturais (parasitoides e predadores) certamente contribuirá para o MIP de diversas culturas em campo.