Defensivos biológicos conquistam produtores

Foram registrados 112 novos produtos do gênero no país este ano, e vendas chegaram a R$ 3 bi em 2021/22

O cafeicultor Luiz Monguilod deu início a uma revolução no processo produtivo de suas lavouras há dez anos. O primeiro passo foi testar a inserção de adubos de resíduos orgânicos. Depois, vieram os defensivos biológicos (fungos, bactérias e insetos), mas ainda aplicados de forma pontual no controle de pragas.

Hoje, depois de desenvolvido um programa próprio de cultivo inserido em um modelo de agricultura regenerativa, onde os biológicos são protagonistas, é comum ver drones sobrevoando a Fazenda Vitória, do agricultor, localizada em Monte Carmelo (MG), para distribuir ovos de vespas sobre a plantação.

Para quem vive em centros urbanos, a cena é inusitada. Mas, no campo, é cada vez mais comum. A busca crescente por esse tipo de solução explica as projeções de aumento de 30% a 50% das vendas de biológicos nesta safra 2022/23, sobre uma cifra já bilionária.

Em 2021/22, o segmento faturou R$ 2,9 bilhões e representou cerca de 4% do mercado total de defensivos do país, de acordo com a consultoria Kynetec, que neste ano incorporou a brasileira Spark Inteligência Estratégica. Para efeito de comparação, a fatia de participação dos biológicos era de 1% em 2016/17.

Predadoras do bicho mineiro – uma praga do café -, as vespas distribuídas sobre os cafezais de Luiz Monguilod são uma solução para ao menos dois problemas, já que os insetos se alimentam também do ácaro vermelho, outra dor de cabeça para os cafeicultores. Com amplitude de atuação, os defensivos biológicos vêm ganhando espaço já nos últimos dez anos, mas houve um “boom” a partir de 2020.

Na fazenda Vitória, do cafeicultor Luiz Monguilod, os defensivos biológicos viraram protagonistas no modelo de cultivo; químicos agora são usados para controles eventuais — Foto: Divulgação

Há um conjunto de fatores que explica a alta. “Percebi um aumento significativo de eficiência no controle [de pragas e doenças], que gerou aumento de produtividade – e, tudo isso, usando uma tecnologia que não aumentou custo. Pelo contrario, proporcionou economia”, resume Monguilod, que é agrônomo, cultiva café há 25 anos e já ocupou cargos em indústrias de defensivos.

O programa que ele desenvolveu ajuda a reduzir os custos em 35% em relação aos sistemas convencionais – que usam químicos e até mesmo biológicos de forma pontual. A queda poderá chegar a 50% em dois anos. O biológico virou o protagonista do modelo na Fazenda Vitória, que usa os químicos como apoio para controles eventuais de doenças.

É que o biológico não serve só para o controle de pragas, mas também funciona como uma espécie de medicina preventiva para as plantas. Em outro exemplo, Monguilod conta que distribui um tipo de bacilo (bactéria) no cafezal para controlar nematoides (parasitas de plantas), que, ao mesmo tempo, ajudam a fortalecer as raízes das árvores.

Como Monguilod, muitos outros agricultores brasileiros têm intensificado a busca por soluções alternativas às químicas, já que os produtos convencionais estão, aos poucos, perdendo seu efeito sobre o controle de pragas e doenças.

Ademais, encontrar moléculas sintéticas – base de defensivos químicos – que sejam disruptivas nos próximos cinco anos será mais raro, diz Matias Santipolo, que desenvolve pesquisas de biológicos na Gaia Agrosolutions, empresa fundada por exexecutivos de indústrias como Syngenta e Rizobacter.

Mesmo que, assim como o ovo e a galinha, não se possa estabelecer ao certo quem nasceu primeiro – se o natural interesse de empresas no ramo ou a demanda do agricultor -, as grandes fabricantes de defensivos estão aumentando a atuação no ramo.

Syngenta, Bayer e Corteva, além da indiana UPL, são algumas multinacionais com grande peso no segmento de químicos que fizeram movimentos recentes nessa direção. No Brasil, em novembro, a Syngenta Proteção de Cultivos, divisão do grupo Syngenta (controlado por capital chinês), fechou acordo para pesquisas conjuntas com o Grupo Scheffer, de Mato Grosso. As soluções poderão, inclusive, ser exportadas.

A Adama, também do Syngenta Group, lançou os primeiros produtos biológicos neste ano e tem mais três na manga. Já a alemã Bayer firmou acordo em outubro com a Ginkgo Bioworks, de biotecnologia, que tem como objetivo desenvolver soluções biológicas para otimização de nitrogênio, sequestro de carbono e novas gerações de produtos de proteção de cultivos.

O diretor de portfólio de produtos para proteção de cultivos da Bayer para a América Latina, Fábio Prata, acredita que os biológicos vão desempenhar um papel cada vez mais importante no futuro da agricultura. Para ele, o crescimento dessa área segue firme porque, entre outras razões, essas soluções oferecem oportunidades que contribuem para a redução dos impactos da agricultura no meio ambiente.

A UPL, por sua vez, criou no ano passado uma divisão de negócios, a Natural Plant Protection (NPP), com foco apenas em biossoluções. O plano é avançar nesse universo e levar a fatia do negócio na receita global, que hoje é de 7%, a 50% em dez anos, segundo o CEO da subsidiária brasileira, Rogério Castro.

Além das gigantes químicas, há um grupo de empresas que atua apenas na pesquisa de biológicos. É um segmento fragmentado e que reúne empresas de diferentes portes. Há desde companhias como a Promip, que nasceu na incubadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba (SP), até a Biotrop, que conta com fundos investidores do porte do Aqua Capital e do fundo soberano de Cingapura (GIC).

Trichomip P é um biodefensivo da Promip, composto pelo agente biológico Trichogramma pretiosum, uma microvespa que parasita ovos de diversas tipos de mariposas.

Paralelamente ao crescimento desse mercado, a partir de 2019 houve uma flexibilização das regras para aprovar registros pelos órgãos governamentais. Neste ano, 112 biológicos receberam sinal verde, de acordo com o Ministério da Agricultura. Nem todos vão necessariamente para as revendas, pois isso depende da estratégia de cada empresa.

Mas o patamar de aprovações cresceu sobretudo a partir de 2020 (ver infográfico). Foi quando passou a ser possível, por exemplo, tocar processos de aprovação considerados apenas os “alvos” que originam os problemas – ou seja, para nematoides – em vez de considerar os alvos em cada cultura – nematoides em soja, nematoides em alfaces etc.

“Isso desburocratizou o processo. Reduziu a quantidade de documentos entregues, sem deixar de lado as exigências científicas que garantem segurança do uso”, disse Santipolo, da Gaia Agrosolutions. A fila para aprovar um biológico é de um ano a um ano e meio, enquanto um químico pode levar cinco anos.

Outra alteração foi a redução do custo desses processos, de até 70% por registro. Mesmo assim, André Dias, diretor da Kynetec para a América Latina, pondera que não é simples fazer projeções mercadológicas para médio e longo prazos.

É que no universo dos biológicos há uma diferença de comportamento de consumo nos segmentos – bionematicidas (para nematoides), biofungicidas, bioinseticidas, entre outros. E a penetração ou adoção desses produtos, conceitos distintos para avaliar o consumo nas fazendas, precisa ser observada e terá mudanças. Os nematicidas, por ora, são os mais usados.

As vendas dessa classe de produtos saltou de R$ 34 milhões, na safra 2016/17, para R$ 1,1 bilhão em 2021/22. “Alguns princípios ativos foram proibidos nesse universo, o que contribuiu para o crescimento”, avalia Dias.

Há um cuidado a tomar em meio à onda crescente dos biodefensivos: a produção caseira, ou “on farm”, dizem os especialistas no assunto. Afinal, como os químicos, há organismos que não podem ser usados.

Um estudo da IHS Markit, feito no ano passado a pedido da CropLife, entidade que representa fabricantes de defensivos agrícolas, mostrou que a produção caseira já representa 22% do mercado de biodefensivos no país. Desse total, estima uma especialista da Embrapa Soja, mais de 90% ocorre sem a supervisão de microbiologistas.

Luiz Monguilod, o cafeicultor da Fazenda Vitória, tem produção “on farm”. Mas, para investir nela, contratou uma bióloga e uma agrônoma, que ficam responsáveis pelas soluções desenvolvidas no laboratório de sua fazenda.

Fonte: Valor Econômico

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