Associados a armadilhas, feromônios permitem usar o meio ambiente para o controle biológico
Por Ari Gitz
Armadilha para mariposas.
Nos últimos anos, tem-se observado grande aprimoramento de novas tecnologias para a agricultura brasileira, o que traz maior segurança e lucratividade para os agricultores.
O uso de agrotóxicos está cada vez mais racional e já não é aceitável que ocorram pulverizações excessivas de inseticidas sem que haja um nível de dano, pois quanto mais pulverizações, maior o custo da produção, contaminação do meio ambiente, risco de contaminação do operador de pulverização, risco de eliminação dos insetos benéficos que auxiliam no controle das pragas, compactação do solo e possibilidade de maior presença resíduos nos alimentos.
A agricultura moderna exige o Manejo Integrado de Pragas (MIP) que tem como ferramenta essencial o uso dos feromônios, cairomônios e armadilhas para o monitoramento e controle de pragas, dando ao agricultor a segurança de não ser surpreendido pela praga, assim como mostra a ele qual o melhor momento para iniciar a utilização do controle biológico ou químico.
Os feromônios e armadilhas foram introduzidos no Brasil como uma nova técnica agrícola com grande benefício para o agricultor. Esta técnica atrai a população adulta de machos presente no cultivo, indicando a chegada da praga e o nível da população da mesma.
Deve-se, a partir da captura, utilizar utilizar pano de batida para verificar se há população de lagartas presentes, pois mesmo com a captura de adultos, é possível encontrar uma baixa população de lagartas na área monitorada devido à possibilidade de insetos benéficos (parasitoides e predadores) já estarem realizando o controle natural das mesmas.
Feromônios sintéticos são imitações precisas dos compostos naturalmente produzidos pelos insetos e são utilizados pelo homem no processo de produção agrícola após passarem por diversas fases de pesquisa e desenvolvimento, até a obtenção do produto final.
Inicialmente identifica-se um inseto considerado praga na agricultura e é feita a multiplicação em laboratório para estudo da biologia e comportamento, além da existência da comunicação entre machos e
fêmeas através do feromônio.
Caso exista esta comunicação, é realizada a extração da glândula produtora de feromônios e identificam-se os compostos presentes na mesma. Estes compostos são reproduzidos através de síntese química e testados em bioensaios, sendo liberados em direção à antena dos machos e observando-se seus sinais de excitação.
Também são realizados testes em túneis de vento, onde o feromônio é liberado em um dos lados do túnel e do outro é colocado um inseto macho para observar se o inseto voa em direção ao liberador de feromônio. Após a comprovação da atratividade, o mesmo é formulado e inserido em um liberador que pode vir a liberar o feromônio durante cerca de 30 a até 120 dias.
O tempo de liberação dependerá do composto químico impregnado no liberador, da quantidade do composto e do material utilizado na confecção do mesmo.
Finalmente, o feromônio é testado quanto à sua atratividade em situação de campo, e conjuntamente é testada e desenvolvida uma armadilha que é adaptada ao tipo de voo e tamanho do inseto-alvo, possibilitando assim sua captura e contagem.
O monitoramento tem como objetivo principal a detecção da praga-alvo no momento da chegada à plantação, propiciando ao agricultor o alerta para o início do controle da praga antes que o dano seja realizado. Algumas pragas como a Broca-pequena-do-tomate chegam à plantação à noite, ovopositando nos tomates em formação, após três dias os ovos eclodem, e as larvas penetram o fruto.
O agricultor vai perceber o dano somente quando os tomates começarem a cair ou na saída da pupa para continuar o ciclo no solo, exemplificando perfeitamente a necessidade do monitoramento.
Feromônios podem ter diferentes usos como “confusão sexual” onde são liberados em grande quantidade no ambiente, o que faz com que o inseto macho não localize a fêmea para cópula.
Também são utilizados no sistema “atrai e mata”, onde o inseto é atraído a um liberador de feromônio associado a um inseticida. Consegue-se, assim, que “a natureza engane a natureza”.
Atualmente, no Brasil se faz uso de diversos feromônios registrados para pragas de grandes culturas, tais como Bicudo-do-Algodoeiro, Lagarta-do-Cartucho, Helicoverpa armigera, Mosca-das-Frutas e Tuta absoluta.
Os órgãos registrantes como Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Anvisa (Ministério da Saúde) e o próprio Ibama (Ministério do Meio Ambiente) consideram os feromônios como agrotóxicos comuns e aplicam os mesmos valores aplicados aos agroquímicos, assim como os Estados agem em relação aos cadastros dos produtos para comercialização nos seus territórios.
Dessa maneira, os órgãos regulatórios e fiscalizadores dificultam a utilização destas tecnologias devido aos altos custos dos registros, suas manutenções, custos de destinação de embalagens vazias (Inpev), custos de transporte (material perigoso), custos para emissão de receituários agronômicos e taxas junto ao CREA.
Fonte: Agro DBO
*Matéria originalmente publicada na edição nº 74 da revista Agro DBO, de fevereiro de 2016