SITUAÇÃO DO MANEJO DA MOSCA MINADORA NA CULTURA DO MELOEIRO

As moscas minadoras são insetos pertencentes à ordem Diptera, família Agromyzidae e gênero Liriomyza. São vulgarmente conhecidas como bicho mineiro, minador, riscador de folha, entre outros. A mosca minadora era tida como secundária do meloeiro até o início da década de 2000 e hoje, após causar danos significativos é considerada como a praga mais importante dessa cultura, juntamente com a mosca branca Bemisia tabaci (Genn.). Três espécies do gênero Liriomyza estão associadas ao meloerio, Liriomyza sativae (Blanchard), L. huidobrensis (Blanchard) e L. trifolii (Burgess). No entanto, existe uma predominância de L. sativae nos polos de fruticultura de Mossoró/Assu (RN) e na Chapada do Apodi (CE), considerados os maiores produtores nacionais.

Os adultos da mosca minadora medem de 1 a 3 mm de comprimento, corpo com coloração predominantemente preta, com manchas amareladas no escutelo, parte superior da cabeça e nas laterais do tórax (Fig. 1).

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Fig. 1. Fêmea adulta de Liriomyza sp. Foto: Elton Lúcio Araújo

As fêmeas realizam postura endofítica no mesófilo foliar, dando origem a larva do tipo vermiforme, que passam por três estágios até se tornarem pupas acima da folha ou no solo, logo abaixo da planta. Os adultos emergem dos pupários e passam por um período de pré-oviposição, onde necessitam ingerir proteínas e carboidratos para a maturação de seus órgãos reprodutivos. Os adultos vivem de 7 a 30 dias, sendo as fêmeas mais longevas que os machos.

Danos à cultura

Os insetos iniciam o ataque à cultura do meloeiro assim que a planta emerge do solo, depositando os ovos nas folhas mais jovens, inclusive nas folhas cotiledonares. Assim que as larvas eclodem dos ovos já começam a se alimentar dos tecidos do mesófilo foliar, causando galerias ou minas à medida que avança na alimentação, daí a origem do seu nome. A construção das minas, por várias larvas na folha, causa redução da área foliar, diminuindo a taxa de fotossíntese da planta (Fig. 3). Consequentemente, ocorre perda na produção e também na qualidade dos frutos, devido à redução do teor de sólidos solúveis. Além disso, em altas infestações, as folhas tornam-se ressecadas e quebradiças, sendo facilmente arrancadas pelo vento ou manuseio (Fig. 3).

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Fig. 3. Folha de meloeiro com sintomas avançados de ataque de Liromyza spp. Foto: Jorge Anderson Guimarões.

A desfolha causada pelo ataque das moscas causa também a exposição direta dos frutos ao sol, levando ao surgimento de manchas de queimadura nos frutos (Fig. 4). Estes, consequentemente, ficam inviabilizados para exportação devido a perda da qualidade externa e são vendidos como refugo.

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Fig. 4. Melão “pele de sapo” com sintoma de queimadura provocada pela exposição excessiva ao sol em decorrência da desfolha causada pelas larvas da mosca minadora. Foto: Jorge Anderson Guimarães.

Antes do ataque intenso da mosca minadora, a praga chave do melão nos principais polos de produção de melão em Mossoró/Assu (RN) e na Chapada do Apodi (CE) era principalmente a mosca-branca B. tabaci, responsável por danos diretos e indiretos, como a transmissão do vírus do amarelão. No entanto, parece que o manejo intensivo efetuado para o controle da mosca branca, com base principalmente no controle químico, ao longo de vários anos, causou um desequilíbrio grave neste agroecossistema, levando ao advento da mosca minadora como praga-chave.

Os primeiros relatos de danos mais graves da mosca minadora no meloeiro ocorreram em Mossoró, RN, a partir de 2003 e atingiram seu ápice nos anos de 2008, onde levaram os produtores locais a realizarem mudanças bruscas nas formas de manejo de pragas do meloeiro. Inicialmente, o manejo da minadora se baseou no uso dos produtos químicos a base de ciromazina e abamectina. No entanto, não foram capazes de segurar os altos índices de infestação da praga (Fig. 5)

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Fig. 5. Uso de controle químico no meloeiro. Foto: Jorge Anderson Guimarães. Foto: Jorge Anderson Guimarães

Posteriormente, com o avanço dos danos causados pela praga, os produtores da região foram obrigados a utilizar outras táticas de controle. Entre elas, merece destaque a iniciativa da instalação de extensas faixas de plástico amarelo, impregnados com graxa nas margens dos cultivos para a captura dos adultos da minadora e tentar reduzir o nível da infestação (Fig. 6).

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Fig. 6. Uso de armadilha adesiva amarela para o controle da mosca minadora. Foto: Jorge Anderson Guimarães.

Concomitantemente, as plantas foram cobertas com mantas de TNT, logo após o plantio para impedir a infestação da praga logo no início do cultivo. O maior problema dessa tática se deve ao fato do melão ser polinizado por abelhas e dessa forma, a cultura precisa ser descoberta próximo aos 20 dias de idade.

Nesse período, várias tentativas de manejo foram empregadas de forma experimental, entre elas, o uso de dolomita pulverizada sobre a folha, a fim de repelir a praga ou tornar a folha mais espessa para tentar impedir a oviposição das fêmeas adultas.

Por fim, optou-se por tentar recuperar a sustentabilidade do agroecossistema, por meio do uso do controle biológico. As moscas minadoras do gênero Liriomyza possuem mais de 150 espécies de parasitoides, com destaque para as famílias Eulophidae e Braconidae. Os parasitoides de mosca minadora podem ser cenobiontes de larva-pupa, como os braconídeos do gênero Opius, que não paralisam a larva após o parasitismo, permitindo que essa continue seu desenvolvimento e os idiobiontes, representados pelos eulofídeos do gênero Diglyphus, que paralisam a larva após o parasitismo. Pouco se sabe a respeito da influência dos inimigos naturais na regulação do nível populacional da mosca minadora e sua capacidade de manter as populações da praga sob controle. Sendo assim, pesquisas devem ser desenvolvidas, a fim de estabelecer um nível de controle que considere, não somente o número de larvas/minas por folha, mas também a ação reguladora dos inimigos naturais, visando maximizar o manejo dessa praga e a sustentabilidade da cultura do meloeiro.

Além disso, para que o controle biológico da mosca minadora seja efetivo, faz-se necessário desenvolver um pacote tecnológico para a produção destes parasitoides em escala massiva, a fim de permitir sua liberação de forma inundativa, de acordo com o preconizado no controle biológico aplicado.

Considerações finais

Para alcançar resultados consistentes no manejo das espécies de Liriomyza no meloeiro, é preciso aumentar o conhecimento sobre a biologia e o comportamento da praga e de seus inimigos naturais; melhorar o monitoramento e praticar o manejo racional do controle químico. Vale salientar também que o controle dessa praga deve ser feito em nível regional e com base nos preceitos do manejo integrado, pois o uso de táticas isoladas, como a aplicação exclusiva e intensiva de produtos químicos, já demonstrou ser ineficiente em longo prazo, causando contaminação ambiental, intoxicação do trabalhador e levando ao desequilíbrio ecológico do agroecossistema. Com isto perde-se a sustentabilidade da cultura, fazendo com que seja necessário deslocar toda a cadeia produtiva para novas regiões. Nesse sentido, é de extrema importância que formas alternativas de controle sejam incentivadas, com destaque para o controle cultural e o controle biológico aplicado, que juntos com as demais estratégias, podem recuperar o equilíbrio biológico deste agroecossistema, permitindo a exploração sustentável dessa importante cultura por muitas gerações.

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