Os ácaros, aracnídeos geralmente invisíveis a olho nu, formam um daqueles grupos do qual muito se ouve, mas muito pouco se conhece. Formando o segundo mais diverso grupo de animais (perdendo apenas para os insetos), existem cerca de 50.000 espécies de ácaros descritas, mas estima-se que o número real possa ser até dez vezes maior.
Apesar de serem quase onipresentes na Terra, talvez pelo seu pequeno tamanho, os ácaros são pouco conhecidos da população em geral e, nas situações em que são lembrados, quase sempre desempenham o papel de vilão. O exemplo mais famoso, é o dos temidos “ácaros de poeira”, que se multiplicam em nossas camas e travesseiros, sendo o pesadelo dos alérgicos. Famosos também são os carrapatos (que muitas pessoas, inclusive, nem associam carrapatos como ácaros!) e as espécies causadoras de sarna humana e animal, que por sua instalação, alimentação e possível transmissão de infecções, danificam a saúde do hospedeiro.
Por fim, temos os ácaros fitófagos, ou seja, aqueles que se alimentam de plantas. Embora menos conhecidos da população em geral do que as espécies que podem causar doenças, são velhos inimigos dos produtores agrícolas, especialmente daqueles que já tiveram sua lavoura atacada por estes animais quase invisíveis, mas muito danosos. Embora existam centenas de espécies de ácaros fitófagos, não mais do que 20 a 30 espécies podem ser consideradas pragas no Brasil. Porém, a aquisição de acaricidas para o controle destas poucas pragas rendeu, apenas em 2015, um lucro de quase US$117 milhões para o setor de defensivos agrícola no país, segundo informações do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
A julgar pelos exemplos de ácaros mais bem conhecidos, pode-se pensar que trata-se de um grupo maléfico que deveria ser exterminado do planeta a qualquer custo É claro que isso está bem longe de ser a realidade! A imensa maioria dos ácaros presta um papel positivo no equilíbrio ecológico dos ambientes em que ocorrem, como os decompositores que são fundamentais na ciclagem de nutrientes em solos de mata natural, por exemplo. Além disso, existem espécies que podem ser efetivamente utilizadas para beneficiar atividade humanas e, neste grupo, entram os ácaros predadores que se alimentam dos temidos fitófagos. Estas espécies, cada vez mais requisitadas e utilizadas em programas de controle biológico, ao serem liberadas em culturas atacadas podem reduzir drasticamente a população da praga, tornando-se peças-chave no manejo integradoem várias culturas.
Dentre as espécies de ácaros predadores, destacam-se aquelas da família Phytoseiidae, encontrados principalmente na parte aérea de plantas como folhas, frutos e flores. Os fitoseídeos são predadores vorazes geralmente de coloração brilhante, fototrópicos negativos (ou seja, buscam lugares protegidos da luz), com movimentos rápidos e que usam o primeiro par de pernas como “antenas”, tateando o ambiente em busca de suas presas.
Atualmente existem cerca de 16 espécies desta família sendo regularmente comercializadas para controle biológico por empresas ao redor do mundo. No Brasil, as espécies de fitoseídeos mais importantes são Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis, utilizadas principalmente para o controle de ácaro rajado, Tetranychus urticae, em diferentes culturas como hortaliças (com destaque para morango, tomate e pimentão) e plantas ornamentais.
Além de controlar pragas da parte aérea de plantas, ácaros predadores podem, também, ser utilizadas para o controle de espécies edáficas. Neste caso, os fitoseídeos dão lugar a outras famílias de ácaros, adaptadas para viver e se locomover entre as partículas de solo, procurando neste local por suas presas. Neste grupo destaca-se a família Laelapidae, com a espécie Stratiolaelaps scimitus, comercializada por pelo menos 11 empresas em diversos países, incluindo o Brasil, para o controle de fungus gnats e tripes em mudas, flores e cogumelos, por exemplo.
Ácaro predador Stratiolaelaps scimitus (Stratiomip), agente utilizado para o controle biológico de fungus gnats e pupas de tripes no solo. Foto: Promip.
Não há dúvidas de que o momento atual é muito benéfico para o controle biológico, com um amento de mais de 15% ao ano entre 2011 e 2014, segundo dados da CPL Business Consultants. O incremento na utilização de ácaros para controle biológico deve ser incentivado através de várias ações, como a busca constante por novos predadores para pragas que ainda não podem ser controladas com inimigos naturais; desenvolvimento de técnicas cada vez mais eficientes de criação e transporte dos predadores e implementação de biofábricas em regiões mais remotas do país, aproximando-as cada vez mais dos produtores.
Porém, ainda mais importante do que todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento, é desmistificar cada vez mais a ideia de que ácaros são sinônimo de problema e prejuízo! A situação está melhor do que nos primórdios do uso de ácaros predadores, quando os produtores tinham arrepio à simples menção de liberar ácaros na cultura. Mas ainda precisamos de mais: precisamos falar mais sobre os ácaros benéficos e mostrar que estes animais microscópicos podem ser usados a nosso favor, trabalhando para nós, enquanto planejamos o futuro!