Há muito tempo já sabemos que a maioria das plantas com flores depende de insetos e outros animais para produzir frutos e sementes. Também já sabemos que a produtividade de diversas culturas agrícolas está intimamente associada à presença de polinizadores na plantação. Então, o que está faltando para que os agricultores brasileiros adotem estratégias para aumentar a quantidade de polinizadores nas suas plantações e, consequentemente, sua produtividade? Em primeiro lugar, pesquisa; em segundo, pesquisa; e em terceiro, pesquisa
Pesquisas em andamento em Belém-PA, para desenvolvimento da criação comercial da espécie amazônica Plebeia minima, conhecida popularmente como abelha-mosquito. Essa pequena e dócil abelha é fácil de criar e excelente polinizadora de cupuaçu e açaí. Jovens pesquisadores como a doutoranda Jamille Veiga (foto acima) terão muito trabalho e oportunidades à frente.
Durante décadas as pesquisas acadêmicas mantiveram certa distância do setor produtivo. Os avanços no conhecimento produzidos pelas instituições brasileiras foram consistentes e de alta relevância para a academia e para formação de novos pesquisadores. Porém, muitos resultados demoravam para chegar aos produtores e, frequentemente, ficavam guardados nas gavetas das universidades. Mas esse cenário está mudando rapidamente e de forma irreversível. Cada vez mais a academia está percebendo a necessidade de se aproximar do setor produtivo para viabilizar suas pesquisas e as empresas percebendo que precisam do apoio dos cérebros da academia para inovar e se tornarem mais competitivas no mercado. Atualmente há dezenas de exemplos bem-sucedidos de incubadoras de empresa e parques tecnológicos associados às universidades promovendo mudanças consistentes nesse cenário.
O Brasil conta com muitos pesquisadores de excelência na área de biologia e manejo de abelhas. Por causa de pioneiros como o Dr. Warwick Kerr e o Dr. Paulo Nogueira Neto, o conhecimento sobre a biologia e manejo das abelhas, bem como o potencial dos polinizadores na agricultura já é bastante consistente e continua avançando rapidamente. A nossa apicultura é forte e conta com uma abelha altamente produtiva e resistente a doenças, as famosas abelhas africanizadas. Avançamos muito no conhecimento sobre a biologia e manejo das abelhas sem ferrão e atualmente há centenas de criadores espalhados por todo o Brasil aptos a atender à demanda. E não podemos esquecer das abelhas solitárias, que atualmente já podem ser atraídas por meio de ninhos-armadilha de forma sistemática e manejadas para polinização de culturas específicas, como a magangava para maracujá e abelhas Centris para acerola.
Duas culturas agrícolas já utilizam sistematicamente o serviço de polinização prestado por apicultores: maçã na região Sul e melão na região Norte. Mas o potencial de expansão é muito maior, tanto em culturas de larga escala, como algodão, girassol, café, canola e, inclusive, soja, como em culturas de pequena escala, mas com alto valor agregado, como morango, tomate, berinjela, maracujá, acerola, abacate, mirtilo, cupuaçu e açaí.
Ainda há muitos desafios práticos a serem superados por meio de pesquisa científica para tornar a polinização agrícola uma realidade nessas outras culturas. Por isso a presença dos pesquisadores no setor produtivo é fundamental para avançar. Isso representa uma oportunidade consistente para empreendedores de origem acadêmica que detêm o conhecimento e muitas vezes não percebem essa oportunidade.
O principal desafio é buscar alternativas para permitir a convivência harmônica entre os métodos de controle de pragas com presença desses polinizadores na plantação. Já existem diversas mecanismos de controle biológico à disposição e alternativas para minimizar o efeito negativo de produtos químicos aos polinizadores. Se a academia e o setor produtivo unirem forças para superar os desafios, todos sairão ganhando. Conseguiremos aumentar a produtividade no campo, com baixo investimento, utilizando as brasileiríssimas espécies nativas. Os pesquisadores verão seu conhecimento chegando à sociedade e gerando renda; os agricultores aumentarão sua produtividade e diminuirão seu custo de produção; novos mercados se abrirão para os empreendedores do agronegócio; e o consumidor terá à disposição alimentos mais saudáveis e de melhor qualidade.