Controle natural de pragas – resposta avançada, baseada em ciclos ancestrais… (foto -Esalq-USP)
Por *Marcelo Poletti
Quem poderia supor que insetos e ácaros pudessem contribuir para o aumento da disponibilidade de alimentos no planeta de maneira sustentável? Enquanto a maioria das pessoas associa esses organismos aos problemas relacionados à agricultura e à saúde pública, os entomologistas, profissionais dedicados ao estudo de insetos, debruçam-se diariamente sobre suas bancadas na busca de artrópodes, como por exemplo insetos e ácaros, que tragam benefícios à sociedade.
A pesquisa científica é o primeiro passo para que o homem possa considerar os inimigos naturais de pragas como aliados em suas lavouras. Na verdade, esses seres deveriam ser tecnicamente reconhecidos como amigos naturais, mérito adquirido por nossos parceiros. Guardada as devidas proporções, insetos e ácaros predadores caçam suas presas com a mesma voracidade que leões perseguem seu sustento.
O sucesso nesta batalha, que se dá no microambiente, sobre folhas, flores, raízes e outras estruturas de plantas cultivadas ou espontâneas, permite aos predadores crescer até o estágio adulto e reproduzir-se, dando continuidade à sua, mais do que importante, função no ecossistema natural ou agrícola.
Ácaros predadores e vermiculita, ministrados no controle de pragas (Foto – Promip)
Do mesmo modo, os parasitóides, insetos pertencentes a outra categoria de agentes do bem, associam-se nesta mesma luta diária pela sobrevivência e reprodução. Esses benevolentes organismos, geralmente microvespas, encontram pistas que os levam até seu alimento por meio do doce cheiro emanado durante o ataque dos insetos-praga nas plantas.
Quando uma microvespa está por perto, o dano causado pelo inseto-praga pode custar-lhe a vida ou a sobrevivência de seus descendentes, já que muitos parasitóides atacam ovos e estágios imaturos de pragas. Ao encontrar o hospedeiro, os parasitóides depositam seus ovos no interior do mesmo. Em seguida, e por algumas horas ou dias, a microvespa continuará seu ciclo, paralisando e interrompendo o desenvolvimento da praga.
Após a identificação do potencial de espécies de predadores e parasitóides realizados pelos pesquisadores, esses organismos podem ser multiplicados em ambientes controlados para, em seguida, serem devolvidos no seu nicho ou introduzidos em lavouras comerciais com o objetivo de corrigir o desequilíbrio que diversas pragas têm ocasionado à agricultura mundial.
O uso de produtos biológicos contendo predadores e parasitóides tem ganhado cada vez mais espaço como ferramenta para o manejo de pragas na agricultura. No Brasil, uma das questões que ainda deve ser resolvida para que a adoção do controle biológico aplicado cresça de maneira expressiva está diretamente relacionada com a percepção do agricultor e técnicos envolvidos com o manejo de pragas em campo. Culturalmente, o agricultor está acostumado a matar os insetos e ácaros que aparecem em sua lavoura e não mantê-los como parceiros.
Há cerca de dez anos, durante uma palestra para produtores de morango no cinturão verde de Brasília, fui surpreendido com uma pergunta espontânea de um agricultor que me indagou: “Já temos tantos insetos em nossa pequena lavoura e o senhor está nos propondo soltar mais bichos?”. Na época, era comum ouvir esse tipo de comentário. Mas hoje, felizmente, a situação está um pouco menos crítica.
Por fim, para que predadores e parasitóides sejam considerados de fato parte integrante do sistema de produção, é muito importante que agricultores e consumidores passem a pensar fora da caixa quando se trata de insetos, pois somente dessa maneira seguiremos rumo à agricultura do futuro, que nos possibilitará produzir com excelência e resgatar o equilíbrio entre os organismos fitófagos (aqueles que se alimentam exclusivamente de vegetais) e os agentes benéficos, relação coexistente em um passado remoto. Somente assim as perdas no campo diminuirão e a sociedade desfrutará desse benefício de maneira completa e justa.
Fonte: Ambiente Legal