Especial do Valor Econômico destaca desempenho de startups apoiadas pela FAPESP

Assim como no setor industrial, a produtividade é um fator crucial para o agro negócio. A cada ano, a demanda global estabelece novos parâmetros para os requisitos de qualidade e cuidados ambientais no manejo. Com isso, abrem-se oportunidades para empresas de base tecnológica cujos projetos inovadores estão sendo viabilizados graças ao financiamento de editais públicos e parcerias privadas.

A Bug Agentes Biológicos, por exemplo, vai dobrar sua capacidade de produção, já no começo de 2018, com a entrada de novos sócios e a chegada de mais recursos. A empresa vai incrementar seu portfólio com a inclusão de uma linha de produtos microbiológicos para combate a pragas que infestam a agricultura.

Iniciado em 2016, o investimento na expansão deverá somar em tomo de R$ 7 milhões até o começo do próximo ano, como explica Diogo Carvalho, diretor e um dos sócios-fundadores da empresa, que passará a produzir vespas Trichogramma galloi e Cotesia flavipes, usadas no controle de pragas de culturas como cana, soja, feijão e algodão. Cada volume produzido é suficiente para· fazer o tratamento de 9 mil hectares de lavouras por dia, diante de 4,5 mil hectares atualmente.

Nascida em 2001 dentro da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), a Bug participou de três editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) entre 2000 e 2003, no âmbito do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe ), num total de R$ 920 mil. O último repasse foi destinado à pesquisa e desenvolvimento das embalagens especiais, feitas de cartelas biodegradáveis utilizadas pelos clientes para a liberação das vespas na lavoura e patenteadas pela empresa.

Em 2009, o Criatec, um fundo de capital semente gerido pela Antera Gestão de Recursos S.A. e a lnseed Investimentos Ltda., trouxe R$ 1,5 milhão para o negócio e assumiu 20% do capital da Bug. No ano seguinte, a Trigger entrou com mais R$ 1,5 milhão em troca também de 20% das ações. O impulso maior veio com a chegada da Rosag Empreendimentos e Participações, empresa do empresário Jayme Garfinkel, maior acionista individual da Porto Seguro, que aportou R$ 6 milhões na Bug, ainda em 2013, assumindo um quarto do seu capital.

Com unidades em Piracicaba e Charqueada (SP), a Bug hoje concentra sua produção na Trichogramma galloi, aplicada no combate à broca da cana, e na Trichogramma pretiosum, vespa considerada mais “generalista” por parasitar ovos de diversas espécies de lagartas que atacam lavouras de cereais. A empresa espera liberar, em breve, para o mercado a produção de Telemonus podisi, vespa que atua no controle do percevejo da soja.

Primeira empresa brasileira a produzir, registrar e comercializar ácaros predadores, a Promip nasceu em junho de 2006 dentro da EsalqTec Incubadora Tecnológica, em Piracicaba. A empresa permaneceu dois anos na incubadora. “Em 2008, desenvolvemos um segundo projeto, de uma empresa de prestação de serviços na área de pesquisa em entomologia que permaneceu como incubada até 2010”, detalha o agrônomo Marcelo Poletti, doutor em entomologia, fundador e CEO da companhia.

Entre ácaros e microvespas, a Promip tem seis produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e, em pipeline, trabalha ainda na pesquisa de agentes polinizadores, que deverão ser utilizados também no manejo de pragas.

Os ácaros foram destinados, a princípio, a culturas de pequeno porte e alto valor agregado, como hortaliças, flores e frutas, já que a aplicação era feita manualmente. A produção de microvespas foi iniciada em 2014, quando a Promip adquiriu a lnsecta, empresa ligada à Universidade Federal de Lavras (UFIA). A operação tomou-se possível depois da injeção, no mesmo ano, de R$ 4 milhões pelo Fundo de Inovação Paulista, que tem como cotistas a Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), Fapesp, Finep, Sebrae-SP, Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e a gestora de investimentos Jive Investrnents.

Com o aporte, a empresa iniciou a produção do baculovírus, utilizado no combate a lagartas em geral. A entrada no segmento de produtos microbiológicos permitirá ampliar a distribuição para todo o país,já que esses bioinseticidas têm tempo de vida de prateleira (shelf life) mais longo. Para isso, a empresa vai investir pouco mais de R$ 10 milhões em distribuição, na formação e treinamento de um time de vendas especializado e no reforço das equipes de campo.

Depois de participar de seis editais do Pipe/Fapesp, a Promip negocia com a Desenvolve SP a contratação entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões com recurso das linhas de financiamento à inovação do Inovacred, programa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Antes de ser vendida, por R$ 75 milhões, para a americana ABS Global, líder mundial em genética e reprodução bovina, a In Vitro Brasil (IVB) participou de cinco editais do programa Pipe entre 2008 e 2015. A empresa de biotecnologia se dedica à pesquisa e à produção de embriões bovinos por fertilização in vitro (FIV).

No total, a IVB recebeu do programa em torno de R$ 550 mil a R$ 560 mil, recursos que ajudaram a construir um patrimônio tecnológico que acabou chamando a atenção de multinacionais como a própria ABS. Hoje com 37 laboratórios próprios e afiliados, espalhados por 17 países, incluindo quatro nos Estados Unidos e três no Brasil, a IVB surgiu em 2002, criada por dois veterinários, entre eles José Henrique Fortes Pontes, que permanece na empresa, e participação de outros três sócios investidores.

Andrea Basso, veterinária e doutora em reprodução animal, chefe de pesquisa e desenvolvimento da IVB, explica que a empresa conseguiu aperfeiçoar os meios de cultura usados na produção de embriões, atingindo taxa de sucesso de 30% em relação ao total de oócitos (células germinativas) coletados. Depois de uma experiência frustrada de parceria com a Parmalat, que pretendia reeditar na pecuária de leite o sistema de integração adotado nas áreas de produção de suínos e de aves, a IVB acumulou know-how e um enorme potencial de produção.

A IVB desenvolveu um método mais eficiente para o congelamento de embriões. As tecnologias disponíveis até então ofereciam uma taxa de prenhez (gravidez) de apenas 10%. As mudanças no meio de cultura dos embriões, tornando-os mais resistentes, o desenvolvimento de novos protocolos de manipulação, a melhoria na calibragem dos equipamentos e a adoção de técnicas de congelamento mais lentas (slow freezing) elevaram aquela taxa para 40%, em média.

O congelamento abriu novo campo de negócios ao permitir a exportação de embriões. O primeiro lote de 300 embriões foi embarcado para Moçambique. Como se trata de material sensível, o crescimento da exportação depende da definição de um conjunto de regras, consolidadas em protocolos negociados país a país por meio do Mapa, para assegurar a ausência de riscos sanitários.

A IVB tem participado dessas conversações, envolvendo entidades internacionais do setor de sanidade animal e dê fertilização bovina, e conseguiu abrir protocolos para Panamá, Uruguai, Paraguai, Botsuana, República Dominicana, Mianmar, Malásia, Etiópia, Costa Rica e Bolívia. A abertura dos mercados dos Estados Unidos, México, Canadá, Índia e Colômbia ainda está sob negociação.

“Spin off” da Top in Life Biotecnologia Genética Animal, especializada em biotecnologias aplicadas à reprodução de ovinos e caprinos, a Inprenha Biotecnologia foi criada em 2008 dentro da Incubadora Regional de Agronegócios (Inagro), de jaboticabal. A empresa se dedica à pesquisa e desenvolvimento de produtos e soluções para o mercado de animais de grande e pequeno porte. O plano de negócios da empresa foi montado entre 2008 e 2009 com o apoio do programa Incubadoras de Base Tecnológica em Parceria para o Desenvolvimento de Novos Negócios (Incpar), financiado pela Finep.

Entre 2008 e 2015, a empresa conseguiu levantar em torno de R$ 1,7 milhão participando de editais da Fapesp, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ( CNPq) e do programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), da Fundação Instituto Polo Avançado da Saúde (Fipase ). Os recursos foram aplicados em pesquisas destinadas a elevar a taxa de sucesso da inseminação artificial em mamíferos, segundo a CEO da Inprenha e veterinária, Erika Morani.

As pesquisas começaram a apresentar os primeiros resultados em 2010, e a empresa patenteou o processo envolvendo o uso de uma proteína que auxilia no reconhecimento materno na gestação. A molécula, desenvolvida em parceria com a USP de Ribeirão Preto e colaboração do professor Marcelo Baruffi, inibe a rejeição do sêmen pelo útero e permite que o embrião produza o interferon-tau, que atua no processo de reconhecimento da gestação. “Trata-se um produto bem inovador, e não há nada semelhante no Brasil e nem no exterior”, afirma Erika.

África do Sul, Japão, Estados Unidos e Rússia, de acordo com a veterinária, já acataram o pedido de patente apresentado pela Inprenha em 201 O. China, Índia, União Europeia e também o Brasil ainda analisam o processo. já batizado comercialmente, o Tolerana IA (de inseminação artificial) foi classificado como produto veterinário da linha biológica pelo Mapa e aguarda o registro definitivo.

O foco será o mercado de bovinos, mas já foram realizados testes em caprinos e ovinos. A Inprenha iniciou projetos para melhorar as taxas de prenhez em equinos e suínos, com o apoio da Fapesp, no valor de R$ 515 mil, e do SesifSenai, de R$ 399 mil (ainda não aprovado). A empresa espera ainda levantar R$ 680 mil para financiar um projeto de inovação no diagnóstico precoce de gestação de vacas, com recursos do Pipe/Fapesp.

Em seu quarto ano de uso e mais de 8 mil inseminações realizadas, o Tolerana possibilitou uma elevação média de 10 pontos percentuais na taxa de prenhez. Em 2014, a empresa recebeu aporte de recursos do SP Ventures, gestora do Fundo de Inovação Paulista, que assumiu em torno de 40% do capital da Inprenha.

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Marcelo Poletti, CEO da PROMIP: ampliar distribuição em todo o país.

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